De um ano até aqui

Não sei quanto tempo ainda temos, mas o fato de estarmos há mais de um ano passando por uma pandemia, onde diariamente muitas pessoas perdem suas vidas e um buraco imenso e inesperado surge na vida de outras, acordar tem sido realmente uma experiência de sorte.

Olhar para os dias que antecedem esse domingo, e saber o quanto tudo mudou no último ano vivendo sem certezas (algo que é natural, mas dentro desse contexto é óbvio que a insegurança anda colada em você como uma sombra), é também algo que me surpreende e nem sei se foi responsável o que fiz até aqui. Quase sempre me espanto com tudo que aconteceu e estou o tempo todo me julgando num misto de conclusões sobre sobrevivência e culpa: mudei mais uma vez de endereço, encontrei um companheiro de maneira inesperada, entrei e sai de um emprego, me matriculei em um curso remoto de design. Apenas dando uma geral, porque nas entrelinhas a lista é interminável.

Voltei para o blog, minha serotonina parte daqui. Escrever sobre arcos, Tiny House ou sobre essas coisas que de vez em quando saem. Andava por essas páginas dia desses lendo textos antigos, “Não, você não se expôs assim, Ana Medeiros, né possível. Vou arquivar isso”, em menos de 3 segundos desisti por respeito a mim mesma.

Quase perdi pessoas, quase. Até aqui. Meu pai com o cartão de vacinação na mão entrou naquela seleção de melhores momentos da vida. Minha mãe com saúde cem por cento é um alívio.

Um pouco de álcool e outras substâncias. Muitas séries, filmes, livros, músicas. Tenho uma playlist de pandemia que não consigo mais ouvi-la, mas ouço. Vou adicionando músicas aos poucos, algumas me levam a uma melancolia profunda, outras me arrastam pra um beco estreito de solidão, a quinta música me traz esperança e parece que tudo isso vai acabar amanhã. Comida, muita comida, comida sempre que tudo parece exaustivamente entediante. Uma ilusãozinha pra temperar, um choro sem saber exatamente o porquê.

Sinto saudades dos meus amigos. Não é apenas do bar, é uma parte superficial demais pra resumir um sentimento. Sinto saudades de conversar na calçada, de dançar na madrugada, da praia no domingo, de sorrir um pouco por coisas idiotas, dos que dividiram momentos também de muita dor. Sinto falta de conversas em comum, de aprender sobre política, psicanálise, literatura, sobre não sentenciar nenhum membro do nosso pequeno clã. Sinto falta dos memes da vida real e de me comunicar apenas com os olhos no meio da multidão.

Estou exausta, mas também não sei o que será diferente a partir disso. Expectativa de um novo tempo. Um novo. Tempo. Sem o abismo diário de tantas incertezas. De não poder respirar sem máscara. Pra não morrer, pra não matar. É muita tranqueira pra assimilar.

Estamos aqui e isso é tudo!

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