O natal das lembranças

Mazinho já esteve aqui no blog esse ano, e estará em 2013 muito mais. Pessoa sensível, amigo do coração, psicólogo de formação e escritor de paixão…Ele é um querido, e trouxe um texto lindo de presente para todos nós.

Um feliz Natal pra todos vocês, meus “leitorinhos” amados!!

“Seja no colorido da árvore de natal, no amigo secreto, nos presentes das crianças, na ceia em família, etc… Está impresso nosso histórico de lembranças do ato de confraternizar definido no dicionário como “conviver ou tratar fraternalmente, dar demonstração de amizade fraterna.” Nós até que tentamos, mas no fundo quase não há como fugir do esforço afetivo que esse último mês do ano provoca. Não há como negar o impulso quase involuntário de olhar para o lado, repensar uma mágoa, responder aquele e-mail, de querer ser melhor… “O amor, assim experimentado, é um desafio constante; ele não é um lugar de descanso, mas um movimentar-se, crescer, trabalhar juntos.” Assina Erich Fromm, um dos psicanalistas que mais defendeu a possibilidade de amor no livro que podia ser uma espécie de bíblia da boa convivência: “A arte de amar”.

A gratuidade e naturalidade que os “sinceros” exigem nessa época do ano parece ser mais uma tentativa de por em prova nossa capacidade de sermos fraternos uns com os outros, “apesar de…” Pensar que somos bons e puros de coração o ano todo e que temos todo tempo do mundo para praticar o amor ao próximo e solidariedade é uma ilusão perigosa. A vida não nos concede essa grande dádiva de disponibilidade, ao contrário, o acesso que temos a esse paraíso é apenas nos momentos em que finalmente conseguimos amolecer o corpo e descansar a mente em meio a nossa cama de solteiro ou casal, porque enquanto é dia aqui no planeta terra, estamos todos correndo atrás de ganhar nosso pão de hoje ou de amanhã. Talvez não justifique, mas a verdade é que vivemos em meio as atribulações e angústias da vida. Temos sempre contas a pagar, filhos de férias querendo se divertir, perdas para suportar, namoro para resolver, vazamento da pia para consertar, horas de trabalho para poder sobreviver, etc. A lista é grande e dela quase ninguém escapa.

“Qual o resultado? O homem moderno alienou-se de si mesmo, de seus semelhantes e da natureza. Ele foi transformado numa mercadoria… Embora todos procurem ficar o mais junto possível do resto, todos permanecem absolutamente sós”. Explica Fromm.
Talvez o “espírito do natal” não venha nos trazer apenas uma mensagem superficial de paz e amor em um curto período de tempo, mas que deve ser vivenciado nesses dias porque o cristo nasceu. Não é tão simples assim. É com um grande esforço que muitos de nós fazemos nossa inevitável retrospectiva e análise dos acontecimentos familiares, que lembramos de nossas despedidas, que organizamos nossas festividades muitas vezes contando “centavo por centavo”, que pensamos se podemos e queremos ajudar alguém e até que ponto é nossa obrigação ajudar… !?

Não é nada fácil vivenciar essas emoções sabendo que nos dias antecedentes ao natal o comércio está cheio de pais devoradores com um cartão de crédito nas mãos, enquanto em frente as lojas brilhantes crianças pedem esmola ou comida e suas pressas não os deixam ver. Claro que haverá sempre exceções, mas sabemos bem qual é a nossa realidade. O natal é uma época difícil. É o momento que nos deparamos com aquilo que poderíamos ter feito um pelo outro, um pela vida do outro. Não a nossa, porque esse balanço é íntimo e é feito perto da virada do ano. É a reflexão de onde estamos deixando a desejar em relação ao todo. É nessa época que apesar do nosso egoísmo e preguiça, inicia na maioria de nós um esforço afetivo doloroso para tentar compensar o que deixou de ser feito durante o ano.

Mas, e se conseguíssemos não condenar tentativas e sim desistências? Nos incomodar com quem se anula e não com quem se esforça para enxergar vida além do seu próprio umbigo? O natal talvez seja mesmo essa única época do ano em que nós conseguimos olhar para nós mesmos e ainda assim enxergar o outro. Nos lembrar que não estamos sozinhos no mundo, embora que durante o ano inteiro evitemos abrir nossas janelas de proteção residencial. A verdade é que o natal sempre chega assim: alimentando os velhos clichês e pedindo um pouco mais de nós”.

Mazes Coen – Escreve  no Mais líquido do que sólido e será um dos nossos colunistas em 2013,

trazendo reflexões sobre casa, família e outras coisitas mais, daquelas que a gente tem

quando senta na varanda numa tarde fresca de outono.

3 COMMENTS

  1. Ai, Ana… posso falar? achei que o texto do moço não combinou muito com o espírito do blog…não que seja ruim! longe disso. A forma dele escrever não se encaixa muito na casa da vó. Mas é só a minha humilde opinião. Espero que o seu natal tenha sido feliz e que esse espírito se prolongue por todo o ano.

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