A lista começa a ser feita na noite anterior, talvez antes, na tarde de domingo. A pressão silenciosa e perturbadora de quem não tem muita opção além de fazer os dias funcionarem pelas próprias mãos. Responsabilidades da vida adulta, sobrecarga feminina e uma falsa sensação de controle.
A casa está o tempo todo num ritmo muito mais acelerado que o meu. Enquanto curo uma decepção limpando os banheiros, a pia já está cheia de pratos e o mato na calçada cresce mais dez centímetros. Coisas planejadas pra semana, como lavar as roupas de cama, ficam pra duas semanas depois. O quadro que nunca chega na parede destino, a maquete do trabalho da escola do mais novo, a conta de energia na caixinha de correspondências, o chuveiro com vazamento, o pó no buffet da sala.
Entender que sempre vai ter algo pra ser feito, mesmo que haja um esforço descomunal pra manter tudo em ordem. O tempo da casa é todo dia e a rotina exige esforços que não são resolvidos com a faxina da semana.
Você tem total razão. Se formos pensar, sempre tem algo que pode ser feito. Que tem que ser feito. Com certeza a casa tem um tempo diferente. É bom aceitarmos isso e não nos cobrarmos de mais.