A Casa Nômade e inexistente do meu amigo

Um amigo enviou-me uma mensagem perguntando quanto eu cobraria para ajudá-lo com a decoração da sua casa. Respondi que não sei como cobrar para pessoas próximas, que poderíamos bater um papo “sem compromisso”, que eu não entregaria projeto porque não tenho formação e nem muito saco pra isso. “Minha decoração é outra parada, amigo. Você sabe”.

Sentindo-me lisonjeada pela confiança, e ao mesmo tempo, ainda sem jeito de colocar preço nesse passo colaborativo da nossa amizade, ele me propôs um valor e aceitei. Combinamos uma reunião online após as festas de fim de ano, que ficou pra depois do meu aniversário. Na semana seguinte, estávamos nós numa chamada de vídeo falando de cores, encontros amorosos atrapalhados, azulejos, carnaval em Olinda, móveis fáceis de desmontar, atividades físicas e também sobre um banheiro azul e verde. Como o mar.

Meu amigo é um homem hétero e que sonha com o seu próprio lar. Estou frisando o fato dele ser homem e hétero porque é um pedido de ajuda raro, eles geralmente não se importam com uma decoração afetiva. Além dele ser um leitor/seguidor assíduo do meu conteúdo, entendeu exatamente o que eu quero dizer quando me refiro a um lar “Não teremos praticidade e impessoalidade”. Também já sacou que a o afetivo não é sobre uma foto dos avós num porta-retrato. Ele reconhece a importância de fazer parte do processo de descobertas de si mesmo e da sua história, que o processo criativo será todo seu. Estarei aqui apenas para guiá-lo com a minha visão sobre o assunto.

O que meu amigo não sabe?

Não sabe quantos cômodos terá essa casa, nem quando chegará nela. Ele não sabe nem onde ela fica.

Essa talvez seja a parte mais interessante da história: Enquanto espera a convocação do concurso que passou, ele literalmente tá construindo a ideia de uma casa só sua, através de um desejo pulsante em ter seu próprio espaço para viver.

Antes mesmo de começarmos a nossa primeira reunião, compartilhou pelo drive um documento contendo suas referências, tudo muito bem organizado. Depois enviou-me pelo Whatsapp uma playlist do Spotify de título “CASA NÔMADE”, que obviamente, foi a trilha sonora da nossa reunião.

Enquanto eu bebia um vinho no interior de Pernambuco, ele contava, do interior da Bahia, sobre as últimas experiências de moradia, dos vários estados que passou, da sua família, como perdeu dez quilos nos últimos meses e como ele quer se sentir nessa futura casa. Tivemos várias ideias, despertamos para pequenas e importantes necessidades, anotamos coisas pra não esquecermos, foi assim que ficamos duas horas conectados na vida um do outro.

Amanhã será a nossa segunda reunião. Continuaremos descobrindo coisas pelo caminho, como se estivéssemos numa trilha criativa para chegar ao resultado final que nem é final. Falamos sobre o fato de quando ele encontrar esse imóvel, talvez todas as nossas ideias atuais nem sirvam, ou sei lá, ele terá outras prioridades e outros pensamentos a cerca de um cacto no quarto.

Pouco importa.

Ele já estará com o mapa decorado pra habitar-se em qualquer endereço.

Volto pra contar mais sobre essa experiência. Até logo

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