Sobre a mãe que eu não quero ser (ou não queremos ser).

Há muito tempo escrevi esse texto, mas repetidamente as palavras dele me batem no peito, me encaram no espelho e me obrigam a refletir sobre quem posso ser como mãe. Ser mãe é um exercício diário. É um compartilhamento total e intenso da sua vida, de quem você é. Não se expressa apenas em como você fará crescer seu filho, mas muitas vezes é como ser levada aos conflitos de personalidade mais intensos do universo mesmo quando o sentimento maior é puramente amor. E eu te peço, queridas mães do universo, entendam que ter uma grande porcentagem de amor no peito não apaga todas as outras porcentagens de coisas que temos dentro de nós. Como fazer?! Sendo. Ser mãe. Assim…do melhor jeito que sabemos.

gabiefilhos

Dessas vezes que contei, mais uma que essas palavras refletiam dentro de mim, abro o Facebook e está lá a Ana falando sobre algo bem parecido de uma forma tão profunda e sincera. Respiro.

Pausa

Agora quem escreve é a Ana, mãe do Vinícius (5 anos) e do Bernardo (11 meses). Eu, Ana Medeiros, haha:

Quando a Gabi me falou que tinha deixado esse post salvo nos rascunhos depois de ter lido a minha reflexão, ou melhor, desabafo, em meu Facebook pessoal, onde tenho muitas amigas mães e sempre trocamos muitas ideias, corri para o computador. Li, reli, chorei, senti que estávamos abraçadas mesmo que a muitos quilômetros de distância e resolvi fazer essa “pequena” intervenção. Aqui o que tinha escrito  nesse momento de exaustão e sofrimento, rs:

“Acordei as 5 da manhã já cansada, com muito sono, sem ter como escovar os dentes e coisa e tal, tínhamos dormido em Recife na casa do meu primo. Voltei pra Gravatá no banco de trás do carro, como de costume, fazendo um dormir em uma cadeirinha enquanto o outro já cochilava com o pescocinho solto, tipo quando a gente dorme no ônibus, sacou? Daí passei mais de meia hora numa posição incomoda e com o braço doendo segurando a cabecinha do mais velho com cuidado. Mesmo sabendo que o meu mau humor estava grande , pela exaustão de uma noite mal dormida e um dia anterior bem cansativo, tentei segurar a onda. Na hora do almoço separei o melhor pedacinho de carne, pedi o suco com a maior dose de vitamina C. Cantei pra distrair, brinquei pra não fazer chorar, peguei no colo quando também senti o cansaço do outro lado, preparei a mamadeira com uma medidinha a mais de leite achando que poderia ficar mais forte e gostoso, dei banho segurando com cuidado mesmo molhando todo o meu vestido, separei a cueca mais folgadinha pra ele dormir mais confortável. Li mais dois artigos sobre como lidar com criança de gênio forte e outro sobre crianças tímidas. Falei duas, três, cinco vezes a mesma coisa e perdi. Gritei, ameacei, puni, quase dei um tapa, ultrapassei a barreira do que considero aceitável, sim, eu perdi o controle, como vez ou outra vem acontecendo. “Menino, eu tô falando grego é?”, ai que ódio que eu tinha dessa frase, ai como eu sou idiota de repeti-la todos os dias. Pedi desculpas, abracei, beijei, fiz de certa forma ele também reconhecer seu erro, chorei por ser tao impaciente. Estou pensado em procurar umas aulas de yoga ao invés de tá correndo atrás de pernas torneadas no crossfit. Chorei de soluçar, de ficar com o nariz entupido. Eles finalmente estavam dormindo. Chorei pela culpa, por não acreditar que estou dando o meu melhor, por me sentir um monstro que berra. Chorei por mudar de opinião agora mesmo que resolvi escrever tudo isso, e até me achar uma mãe razoável, já que eu também fiz algumas coisas legais ne? Choro mais um pouco, porque amo-os tanto e me sinto tão exausta”.

ana e filhos

“Despausa”

Depois dessas palavras da Ana, eis aqui o texto que resolvi publicar mais umas vez:

A mãe que eu não quero ser está o tempo todo pedindo que  filho abra mão das suas coisas pelos outros. Ele não pode dizer não quando quiser, quando escolher. Mesmo que quando faça isso, esteja apenas expressando seus pequenos desejos. O menino não é e não será uma criança sem limites por esse motivo.

A mãe que eu não quero ser diz sempre que o filho dela nunca faria isso ou aquilo. Como se pudesse colocar a criança numa caixinha o tempo todo. Domesticado, domado, controlado. Como se umas das coisas mais legais de se ter um filho por perto não fosse ter que lidar com a falta de ordem que nos pega de jeito. Com os imprevistos. Com uma personalidade que já existe e que, aos poucos, vai apenas se afirmando, crescendo, se projetando.

A mãe que eu não quero ser não tem imaginação, não tem brincadeira na mão, não tem tempo pra ser um pouquinho criança também. Ela só está preocupada com a própria vida, com o trabalho e como pode aparentar ser. Não pode sentar na grama ou no tapete pra brincar um pouco. Não atender o celular, atrasar o trabalho.  Ela só sabe que tem que crescer. Pobre dela. Nem se lembra mais como é ter que querer algo tanto e sem conseguir, ter vontade de chorar.

Eu não quero ser aquela mãe que está mais preocupada em dar os alimentos certos pro seu filho, do que carinho, amor e atenção. Como se o menino fosse ser feliz apenas sabendo que batatinha frita aumenta a pressão. Como se até ela, em dias estranhos, não quisesse um pouco de chocolate, não se consolasse com doce de leite. Até se esqueceu o tanto que fica feliz, como criança, com sorvete.

A mãe que eu não vou e nunca quero ser, perde a paciência já que ficou sem dormir à noite. Descontou suas coisinhas no menino. Irritou-se.

Há milhões de coisas que não quero ser como mãe. Muitas delas, infelizmente,  posso já ter sido algum dia. Ontem. Hoje. Agorinha a pouco. Estou tentando.Fui sim. Sou tantas vezes.

E nem por isso, me ocupo menos com essa missão de ser, ainda, a mãe que quero ser…hoje.

A mãe que eu quero ser sabe que o melhor pro seu filho não é o que as pessoas vão apenas pensar dele, dela.

A mãe que eu quero ser olha pro seu menino. Acredita no que ele já é  e vai vivendo a vida e crescendo com ele. Essa é quem ela deve ser. Vai se acertando na jornada. Vai mostrando, a cada dia, que ele sempre terá em casa seu aconchego. Isso ele não pode esquecer.

E ele, cegamente, a ama e aceita. Tão fácil lhe oferece seu colo. Tão fácil lhe oferta seu perdão. Logo o menino…

 

 

23 COMMENTS

  1. Estou amando seus textos… verdadeiros, de coragem (é difícil falar de maternidade… todo mundo tem uma receita mágica pra dar) e com o melhor que (eu acho) uma mãe deve ter: a busca pelo que é melhor para os filhos! Sim, erramos, mas admiro mulheres conscientes como você! Bjs.

  2. E Ana, que dureza hein! passando por isso com um, já acho difícil… com dois, nem imagino, rsrsrs. Mas é lindo ver o que a maternidade é capaz de fazer… somos fortes mesmo quando estamos tão fracas! Estou adorando o blog 2015! Sucesso ♥ Bjs.

  3. Temos limitações, somos falhas e humanas. Por isso, se perdoe sempre. Claro que precisamos de uma boa dose de paciencia para não fazer uma porção de coisas.
    Boa sorte. Educar é dificil. Bem que nossas crianças deveriam ter nascido com uma bula de lado para sabermos conduzi-las.
    Bjs.

  4. Nossa, eu só tenho uma muleca brabinha de 2 meses, que eu amo demais, mas como ela não gosta de dormi estou sempre mal humorada, estressada cansada, um sono sem limites e culpada, extremamente culpada por me sentir assim, com uma bebê que eu tanto quis, que tanto amo, e por sentir saudades da minha vida de antes, me sinto um monstro por isso, por ser a mãe que eu não queria ser, a mãe que reclama dos filhos

  5. Ai meu Deus, chorando no trabalho é a treva! rsrsrs
    Afff, meninas, tudo tão parecido com minha vida de mãe!
    Como não se identificar e não chorar, né?
    Rapadura é doce, mas não é mole não!!
    Pense numa verdade verdadeira!
    No auge da minha agonia, me pego pedindo ajuda a Nossa Senhora, de forma tão desesperada, que chega a doer.
    Aí pode chegar alguém e dizer: “Mas tem gente em situação muuuito pior! Pra que tanto drama?”
    E eu tô aprendendo a responder: “Amigo (a), cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. ”
    Só podemos falar e sentir a nossa realidade, o nosso momento.
    É claro que existem situação muito piores, e lembrar disso pode ser sim um alento.
    Mas não resolve o que estamos sentindo e passando no nosso momento.
    Enfim, são muitos dilemas, muitas culpas, mas também muitos momentos deliciosos e alegres, e uma coisa acaba equilibrando a outra.
    Vamos simbora!
    Sintam-se todas abraçadas demoradamente!!
    Beijos!

  6. Oi Ana tudo bem? Já faz algum tempo que acompanho seu blog, descobri por acaso fazendo umas pesquisas sobre imagens de decoração e desde então não deixo de acompanhar. Gostei muito deste seu post, fui mãe as 19 anos e hoje tenho 35 e minha filha acabou de fazer 16. Não é fácil muitas vezes me sinto ausente da vida dela até porque tive que trabalhar para poder sustentá-la já que sou mãe solteira. Mas independente das dificuldades que passei ela com certeza é o melhor presente que Deus poderia ter me dado, e eu agradeço todos os dias por ser mãe. Muitas vezes ela me faz raiva, é teimosa, chata,mas eu amo incondicionalmente!!! eu acho que ser mãe é isso é verdadeiramente se doar por alguém e amar aquele ser que você escolheu colocar no mundo mesmo com seus defeitos e qualidades!!!
    Um beijo!!!

  7. Belíssimo e emocionante o seu texto/desabafo, Ana. Meu filho tem 4 anos e aqui em casa não é diferente. Parei de trabalhar para me dedicar exclusivamente a maternidade, que é uma delícia, mas que também cansa. Sejamos sinceras.
    Boa sorte pra vc´s aí.

    PS: Sua família é linda.
    Beijo!

  8. Lindo texto! Acho que ser mãe é mesmo por aí, uma mistura da mãe que somos e que queremos ser. Muitas vezes a gente é a mãe que consegue ser naquele momento (geralmente nos maus momentos, de cansaço ou explosão), mas a busca pela mãe que queremos ser é que não podemos abrir mão!
    Só acho…
    Beijo!

  9. Meninas, os textos de vocês foram muito apropriados para mim. Tenho um menino de 9 meses. Nunca imaginei que fosse tão desgastante ser mãe. Não tem nada de sofrer no paraíso. Não existe paraíso no cotidiano com um bebê. Mas existem bons momentos, às vezes, lindos momentos. E há também uma mãe exausta, com pouquíssima liberdade e com a qualidade de vida bem comprometida.
    Às vezes, me sinto um peixe fora d’água, pois não “purpurino” o que estou vivendo. Não me encaixo no estereótipo da mulher profundamente realizada com a maternidade. Da “mãe santa”. Esforço-me para ser uma “boa” mãe. Respiro fundo para ter mais e mais paciência. Para não descontar nele o meu cansaço, o meu sono e frustrações. Faço o possível para chegar o mais cedo possível no trabalho e voar para casa e ficar com meu menino. Não sou exemplo de nada. Sou uma mãe tentando acertar. E como erro! E como errei!

  10. Amei o texto! Eu também sigo nesta jornada: a cada dia tento não ser a mãe que não quero ser! E sigo tentando, às vezes consigo, às vezes derrapo…enfim, sempre aprendendo com eles! Beijos e parabéns!

  11. Me emocionei tanto por conta das mudanças que vem surgindo com o crescimento do meu João de 5 anos que já diz não querer ir pra escola por que quer ser livre e curtir a vida (pode uma coisa dessas?) e das mudanças emocionais e sentimentais que passa o meu menino de 16 anos com 1,80 de altura e bigode na cara!
    As vezes não sei como lidar com essas coisa e me desespero…não sei se deixo o pequeno comer chocolate antes de dormir por ter me visto fazer o mesmo…alego que não é bom comer doce a noite…e daí ele me pergunta…então porque eu comi o bendito? Ou de entender que mesmo não achando correto que o mais velho troque a noite pelo dia jogando vídeo game permito,pois eu também fui adolescente e fiz coisa pior.
    Errar nos deixa com um sentimento de mãe monstra…corrigir é um ato de amor,mais doí na alma quando o fazemos!
    Se mãe não é mole não pois nos cobramos muito quanto alimentação,educação e etc…mas no final do dia mesmo exaustas chegamos a conclusão que ser mãe é uma delicia <3
    Beijus meninas <3

  12. Oi Gabi, parabéns pelo texto, sou mãe de adolescente e tb já desistir de ser super mãe kkkkkkk, quero ser mâe e fazer o possivél.
    P.s: Vc não deve se lembrar de mim , mais sou irmã do Thiago kkkk Beijinhos

  13. Como mãe é impossível não se identificar! Ser mãe é amar em ritmo punk rock…
    Não há nada mais transformador, educador e exigente do que um filho!
    AMEI o texto…

  14. Lindo demais! Descreveram como nossa vida na maternidade muda e nos transforma por dentro. Ana e Gabi, tenho três filhos, de seis, quatro e dois anos imanginem quantos banhos eu tomo dando banho neles por dia?hahahaha Ser mãe é uma verdadeira missão! Engraçado que eu me achava forte antes, e hoje me sinto mais forte ainda. Sempre teremos dificuldades no percurso e aqueles momentos em que as crianças parecem que combinaram de fazer o coro do choro juntas e todo mundo no mercado, na festinha, na consultório fica olhando…eu digo a mim mesma: ninguém pode fazer melhor que eu e não existe filho que nunca tenha feito birra e mãe que nunca ficou constrangida! Amor de mãe é o mais puro e fiel, é dele o pilar que irá sustentar o coraçãozinho que está crescendo!Bjus a vocês!

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