Queria que você soubesse como andam as coisas, te contar sentada ao seu lado nesse sofá, tarde da noite, o tanto de acontecimentos desde o nosso último encontro.
Certamente estaríamos comendo uma coxinha, e entre uma fala e outra, você estaria me interrompendo pra dizer o quanto gosta de comer essas besteiras.
E que só presta se tiver o refrigerante pra acompanhar.
Com seus olhinhos minúsculos atentos e ajeitando os cabelos, você estaria com a voz mais doce dizendo “Faça como sua vó…olhe Nana…sou uma pessoa que ama a vida, comigo não tem essa história de morte não, quero viver muito tempo porque amo a vida. Se você acha que deve fazer algo, faça, eu sei que você é corajosa como eu”.
Ai vozinha, que saudades do tempo que você estava aqui, lúcida, ativa e limpando o cantinho da boca naquele guardanapo de pano. Ainda escuto sua gargalhada tão elegante, seu cheiro de velhinha e da loção camélia nos seus cabelos. As vezes sinto seus passos se aproximando com aquele sapatinho preto e me vejo inclinando o corpo pra o breve beijo que você dava na minha cabeça.
Fico imaginando te falar sobre o A casa que a minha Vó queria. Você não iria entender nada de primeira, mas iria sorrir e começar a me contar pela milésima vez toda a sua história e a do meu avô, das casas que você viveu, dos seus ressentimentos e da sua resignação, e concluiria que, ainda assim não mudaria nada porque ele foi o grande amor da sua vida e que você tem a família mais linda desse mundo.
Sinto sua falta e sou grata por você ter aproveitado até o último minuto esse desejo de permanecer aqui (afinal foram 100 anos né?).
Feliz dia dos avós!
Uma bobagem querer te contar o que você já sabe 
Com amor,
